PROGRAMA JORNADA FRATERNA
TEMÁTICA: INFLUÊNCIAS ESPIRITUAIS - OBSESSÃO
INTRODUÇÃO: CONCEITOS E ATENDIMENTO FRATERNO
“Quando os homens compreenderem, afirmando-o pela vivência, que nunca estão a sós, mas sempre rodeados de Entidades que se lhes assemelham e com eles se sintonizam pela afinidade mental de gostos e atitudes, sem dúvida adotarão outros hábitos de raciocínios, aspirações e comportamentos, a fim de experimentarem e manterem superior relacionamento espiritual. Disso fruirão abençoadas alegrias, experiências de paz e felicidade, porque se alçarão intimamente a situações muito diversas das que lhe são habituais”.
Manoel Philomeno de Miranda (Espírito). Psicografia de Divaldo P. Franco. Tramas do Destino. Cap. 26, ‘Esperanças e Consolações’. |
Querido Atendente Fraterno,
Em nosso trabalho de Diálogo Fraterno no Centro Espírita, em algum momento encontraremos pessoas que solicitam atendimento por sentirem que estão sendo influenciadas ou perseguidas de alguma forma. Um, se queixa de estar vivenciando pensamentos repetitivos dos quais não consegue se livrar, muitas vezes com sugestões para que se suicide; outro, relata pesadelos constantes, povoados de personagens estranhos que lhe metem medo; um terceiro, diz ter cometido atos que não queria, como se uma força maior que ele o impelisse à ação; há, ainda, aquele que pensa estar sob o efeito de um sortilégio de alguma forma exterior a ele, que ocasiona danos, a si mesmo ou a outrem... E existem aqueles que dizem ter procurado o Atendimento Fraterno porque alguém lhes disse que está sendo vítima de “encosto” ou “trabalho feito” para prejudicar sua vida... Nesses casos, a pessoa em atendimento pode levantar questões do tipo: “O que está acontecendo comigo”?; “Estou sob a ação do diabo”? “Vocês podem tirar essa perseguição de minha vida”? “Estou enlouquecendo”?
Pode, também, acontecer que, pelos próprios relatos da Pessoa sobre eventos e acontecimentos que a levaram a buscar o Atendimento Fraterno, você venha a suspeitar que ela possa estar sob influências espirituais deletérias à sua vida, embora disto ela não se esteja apercebendo. Podem ser situações nas quais a queixa principal da pessoa é uma aflição que parece estar associada a alguma forma de obsessão. Por exemplo, depressões acompanhadas de ideias fixas e contraditórias entre si, mecanismos de ideação suicida até mesmo independentes de predisposição ou da vontade da pessoa para o ato, recorrências perturbadores relacionadas à mediunidade aflorada sem controle e/ou sem educação mediúnica e outras condições mento-emocionais confusas e atormentadoras...
Em todos esses casos, você, enquanto Atendente Fraterno, necessita muita clareza sobre pelo menos alguns pontos básicos da temática das influências espirituais, incluindo as obsessivas. Estes conhecimentos facilitarão sua compreensão e discernimento sobre como desenvolver o diálogo, como esclarecer pontos importantes e de que forma encaminhar devidamente o Atendido aos recursos disponíveis na Doutrina Espírita. O texto a seguir aborda essas compreensões.
Allan Kardec focalizou a temática da influência dos espíritos em nossa vida no Livro dos Espíritos, nas perguntas de número 459 a 471. As respostas que ele recebeu dos Espíritos da Codificação representam a base para todos os entendimentos posteriores sobre a questão. Seguem as perguntas de Kardec (numeradas) e as devidas respostas (em itálico).
459. Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?
Comentário de Kardec:
Em A Gênese, Allan Kardec nos proporciona admirável lição sobre vários aspectos da ação dos Espíritos sobre os “fluidos espirituais”. Lembremos que outra forma de entender a questão dos fluidos - embora imperfeita em termos da concepção mais estrita que lhe é dada na área científica – é considerá-los como “energias” ou “vibrações”. Neste caso, são considerados como elementos componentes de nossa psicosfera espiritual. Transcrevemos integralmente uma das conceituações, pela sua importância no entendimento de nossa temática. Kardec pergunta:
O meio é muito simples, porque depende da vontade do homem, que traz consigo o necessário preservativo. Os fluidos se combinam pela semelhança de suas naturezas; os dessemelhantes se repelem; há incompatibilidade entre os bons e maus fluidos, como entre o óleo e a água.
Que se faz quando o ar está viciado? Procede-se ao seu saneamento, cuida-se de depurá-lo, destruindo o foco dos miasmas, expelindo os eflúvios malsãos, por meio de mais fortes correntes de ar salubre. À invasão, pois, dos maus fluidos, cumpre se oponham os fluidos bons e, como cada um tem no seu próprio perispírito uma fonte fluídica permanente, todos trazem consigo o remédio aplicável. Trata-se apenas de purificar essa fonte e de lhe dar qualidades tais, que se constitua para as más influências um repulsor, em vez de ser uma força atrativa. O períspirito, portanto, é uma couraça a que se deve dar a melhor têmpera possível. Ora, como as suas qualidades guardam relação com as da alma, importa se trabalhe para melhorá-la, pois são as imperfeições da alma que atraem os Espíritos maus.
As moscas são atraídas pelos focos de corrupção; destruídos esses focos, elas desaparecerão. Os maus Espíritos, igualmente, vão para onde o mal os atrai; eliminado o mal, eles se afastarão. Os Espíritos realmente bons, encarnados ou desencarnados, nada têm a temer da influência dos maus.
• “Chama-se obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta características muito diferentes, que vão desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”. (Em: A Gênese, capítulo XIV, item 45: “Obsessões e Possessões”).
• (...) “Da mesma forma que as doenças são o resultado de imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral que o expõe a um mau Espírito”. (...) “A obsessão é quase sempre o resultado de uma vingança exercida por um Espírito, e que, o mais frequentemente, tem sua origem nas relações que o obsidiado teve com ele numa precedente existência”. (Em: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 28, item 81).
Bezerra de Menezes (Espírito)
“(...) a obsessão, de qualquer natureza, nada mais é que duas forças simpáticas que se chocam e se conjugam numa permuta de afinidades”. (Em: Dramas da Obsessão. Psicografia de Yvonne A. Pereira. Brasília: FEB. Primeira parte, item V).
Manoel Philomeno de Miranda (Espírito)
“Em toda obsessão, mesmo nos casos mais simples, o encarnado conduz em si mesmo os fatores predisponentes e preponderantes – os débitos morais a resgatar – que facultam a alienação”. (Em: Nos Bastidores da Obsessão, 2ª. ed. psicografia de Divaldo Franco, Ed. FEB. Cap. “Examinando a Obsessão”).
Emmanuel (Espírito)
“(...) a obsessão é o equilíbrio de forças inferiores, retratando-se entre si. Fenômeno de reflexão pura e simples, não ocorre tão somente dos chamados “mortos” para os chamados “vivos”, aparecendo muitas vezes entre os espíritos reencarnados a se subjugarem reciprocamente pelos fios invisíveis da sugestão. Não há obsessão unilateral. Toda ocorrência desta espécie se nutre à base de intercâmbio mais ou menos completo. (Em: Pensamento e Vida, psicografia de Francisco C. Xavier. FEB. Cap. 27 “Obsessão”).
• Ação persistente, tenacidade do obsessor;
• Interferência na vontade de outrem;
• Praticada por Espíritos inferiores;
• Entre forças espirituais afins (sintonia entre os implicados).
Obsessão Simples
Trata-se de uma influência sutil, de forma que o constrangimento leva a pessoa a praticar atos ou ter pensamentos diferentes dos que geralmente possui. Quando a pessoa toma consciência da influência daninha, tem dificuldade em se livrar dela. Esse tipo de obsessão é a mais comum e pode agravar-se, dependendo da natureza do Espírito atrasado envolvido e das disposições morais do paciente.
Fascinação
Constitui-se de uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento da pessoa que, de certa forma, lhe paralisa o raciocínio. O fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente. A pessoa perde a noção do verdadeiro e do falso, acatando sugestões e diretrizes que a todos se apresentam como disparates, mas que a ela se apresentam como perfeitamente lógicas. As doutrinas mais estranhas são aceitas como expressão da verdade. Pode levar a “situações ridículas, comprometedoras e até perigosas”. O fascinado é levado ao “afastamento de quem quer que lhe possa abrir os olhos. Por esse meio, evitando toda contradição, fica certo de ter razão sempre”. (Sintetizado de Allan Kardec. O Livro dos Médiuns, Cap. 23 “Da Obsessão”, item 239).
Subjugação
“A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo”. “A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários”. (...) “Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos”. (Em: Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. Brasília: FEB. Cap. 23: “Da Obsessão”, item 240).
Esse fenômeno é algumas vezes denominado “possessão”. Allan Kardec nos esclarece ser este um termo equivocado, pois que (...) “a palavra ‘possesso’, na sua significação comum, supõe a existência de demônios, ou seja, de uma categoria de seres de natureza má, e a coabitação de um desses seres com a alma no corpo de um indivíduo”. Ele explica que não há possibilidade de dois Espíritos habitarem o mesmo corpo e que essa expressão “deve ser entendida como sendo a dependência absoluta em que a alma pode se encontrar em relação a Espíritos imperfeitos exercendo sobre ele (o obsidiado) o seu domínio”. (Em: Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, questões 473 e 474. Brasília: FEB).
Em todos os casos de obsessão existe afinidade vibratória entre obsessor e obsidiado, mormente no setor da moralidade e no patamar de interesses e comprometimentos. As “imperfeições” do nível evolutivo do indivíduo podem levar a comportamentos como o cultivo de vícios (cigarro, bebida em excesso, drogas) e manifestações de orgulho, do egoísmo, da maledicência, da violência, da avareza, da sensualidade doentia, da luxúria e outras situações que criam campos energéticos que se assemelham aos cultivados pelos Espíritos que apresentam afinidades de condição e comportamentos. No livro A Gênese, Capítulo XIV, Allan Kardec vai mais além e nos alerta para o fato de que, além de nós mesmos, os ambientes materiais possuem uma espécie de atmosfera espiritual criada pelas pessoas através de seus pensamentos, sentimentos, etc. Quando uma pessoa frequenta ou se deixa ficar em ambientes onde predomina a influência de Espíritos inferiores e apresenta as condições pessoais necessárias, pode se “contaminar” na razão direta da sintonia com a vibração dos Espíritos inferiores aí presentes.
Estas condições podem levar a vinculações de caráter obsessivo, segundo nos explica o Espírito Joanna de Ângelis:
Dessa forma, a dependência do encarnado caracteriza-se pela submissão à influência morbosa do seu comparsa espiritual. Inabituado a assumir decisões dignificadoras, deixa-se arrastar pelas ideias pessimistas e perturbadoras que lhe são transmitidas, passando à condição de vítima de uma parasitose infeliz, que termina por roubar-lhe as energias. O inconsciente, reconhecendo a culpa em decorrência da ação anterior infeliz, deixa-se dominar pelo agente perturbador, facultando-se a dependência, prosseguindo o paciente a carregar a cruz que lhe pesa na consciência, deixando de pertencer-se, de avançar no rumo da alegria e do bem-estar que a todos se encontram destinados. (Em: Jesus e Vida. Psicografia de Divaldo P. Franco. Salvador: LEAL, cap. 12)
Relacionamentos passados, desta ou de outras existências, podem gerar ligações caracterizadas por imantação deletéria entre obsidiado e obsessor. Estas se caracterizam por sentimentos de apego doentio, ódio, ressentimento e/ou desejo de vingança por parte do obsessor e, frequentemente, de culpa, consciente ou inconsciente, por parte do obsidiado. A ligação é permitida pela lei da ação e reação - ou lei de causa e efeito - que regula estes processos de ajuste entre as partes envolvidas. A este respeito, o Espírito André Luiz alerta que os trabalhadores espíritas, quando se deparam com um quadro de obsessão, notam somente o “ato presente do drama multissecular de cada um. Não ponderam que obsidiado e obsessor são duas almas a chegarem de muito longe, extremamente ligados nas perturbações que lhes são peculiares”. (Em: Missionários da Luz, psicografia de Francisco C. Xavier. Ed. FEB. Cap. 18, “Obsessão”).
Vinculações relacionadas aos vícios
A este respeito, aponta-nos Richard Simonetti que...
Sexualidade insatisfeita, por açulamento da libido, transformando-se em tormento de qualquer porte; viciação e dependência de barbitúricos e alucinógenos, estimulantes e depressivos são mecanismos de obsessão, a que recorrem as mentes enfermas do Mundo Espiritual, nos desforços pessoais a que se propõem com os seus desafetos do passado, ou por “divertimento” e “prazer” a que se afeiçoam e encontram respaldo nos débitos do pretérito como nas leviandades do presente a que se vinculam quantos se lhes tombam nas urdiduras do maquiavelismo interior.
Da mesma forma, alcoolismo, tabagismo, jogatina, gula, recebem grande suporte espiritual, sendo, não poucas vezes, iniciada a viciação de “cá” para “aí”, por inspiração que fomenta a curiosidade e por necessidade que estimula o prosseguimento.
(Em: Roteiro de Libertação. Psicografia de Divaldo P. Franco. Cap. 34 e 40)
Por esta razão, além de todo o preparo anterior a que já nos reportamos, em relação aos fundamentos e métodos adequados a um atendimento com o Cristo, você, Atendente, necessitará ter em mente algumas recomendações complementares à realização do diálogo com a Pessoa sob influenciação Espiritual.
O primeiro princípio a observar é que todo trabalho de tratamento espiritual do complexo fenômeno da obsessão é, na verdade, um trabalho de autodesobsessão do Atendido.
No exercício das funções de atendimento fraterno você irá, sim, recomendar e encaminhar o obsidiado a todos os recursos do Espiritismo - e aos tratamentos específicos de sua Casa Espírita - que possam concorrer para a melhoria espiritual dos envolvidos na aflição. Além disso, deverá prestar esclarecimentos iniciais ao Atendido, de forma que ele possa usufruir ao máximo de sua oportunidade de melhoria no uso dos recursos que lhe serão oferecidos.
O Atendimento Fraterno, nesses casos, demanda tempo, assim como a reforma interior do Atendido demandará. Portanto, é recomendável acompanhamento de forma periódica e continuada, ao longo do tratamento de desobsessão por outros recursos da Casa, preferivelmente com interação entre o Atendimento Fraterno pelo Diálogo e os outros trabalhadores envolvidos no trabalho de assistência ao caso.
Recomendações adicionais sobre os esclarecimentos ao obsidiado
Durante o Diálogo Fraterno, você deverá colocar-se de forma sensível e fraterna, livre de julgamentos, utilizando-se de toda a sua compreensão empática no trato dessa questão. Para isto, necessitará investigar discretamente as concepções de seu Atendido sobre a questão das influências espirituais em nossas vidas. O que ele pensa? O que sabe? No que acredita?
Após – e de acordo com as respostas do Atendido - necessita perguntar se ele deseja ser esclarecido sobre a natureza do que pode estar acontecendo com ele. Caso afirmativo, limite-se a informações essenciais e gerais, sem pressuposições sobre o caso específico, uma vez que, de forma alguma, você saberá o que realmente está acontecendo no caso em particular.
Sua postura nas explicações deve ser natural e tranquila, reafirmando que estamos todos protegidos pela bondade de Deus e que ninguém pode se apossar de nossa vida sem nossa permissão. Deve desmitificar possibilidades de perseguições espirituais diabólicas e indébitas em nossa intimidade e esclarecer de forma serena o fenômeno das influências espirituais a que todos estamos sujeitos. Ao esclarecer a realidade da afinidade espiritual e possíveis ligações entre obsidiado e obsessor, você deve evitar colocações que possam levar a reações de medo e/ou vitimização por parte do Atendido, assim como de qualquer inculcação de culpa. Limite-se à explicação da vinculação possível entre ele e uma possível entidade espiritual, devido a alguma afinidade ou algo em comum que a pessoa possa ter com o influenciador.
E, muito importante, deverá deixar claro para seu atendido que a participação ativa dele no uso dos recursos evangélicos que vão ser colocados à sua disposição será o fator mais importante na melhoria de sua condição.
Suely Caldas Schubert, em seu livro Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas esclarece de forma ampla os pontos básicos fundamentais do trabalho de desobsessão, incluindo aspectos do Atendimento Fraterno. Recomendamos a leitura do livro todo. Neste texto introdutório ao nosso estudo selecionamos, para sua reflexão, apenas algumas colocações da autora. Elas devem ser utilizadas para seu maior entendimento da questão – e somente após a confirmação de que a suposição inicial de processo obsessivo for confirmada pelos setores adequados da Casa.
Necessitam de nossa compreensão. Pedem-nos ouvidos atentos e caridosos, ansiando desabafar os seus conflitos.
Chegam aos magotes em nossas Casas Espíritas. Vêm em busca de alívio e conforto. Quando apresentam lucidez suficiente, procuram explicações e respostas. Devemos estar preparados para recebê-los. E não apenas isto, mas acolhê-los e tratá-los com a caridade legítima, orientando, encaminhando, clarificando os seus caminhos com as bênçãos que a Terceira Revelação nos proporciona.
É nosso dever esclarecer a esses irmãos que o combate mais renhido que deverão travar não é contra o obsessor – pois a este é mister conquistar através do amor e do perdão - mas, sim, contra si mesmos. Peleja em que devem empenhar-se, no intuito de se modificarem, no anseio de moralização, até que deem ao verdugo atual a demonstração efetiva de sua transformação.
Nestas condições, ele pode conseguir a conquista do obsessor que o subjuga. Conquista esta progressiva, demorada, mas sublime, pois ao final encontrar-se-ão frente a frente, já agora, intimamente renovados e redimidos. Esse o único caminho para a libertação.
O obsidiado é o algoz de ontem e que agora se apresenta como vítima. Ou então é o comparsa de crimes, que o cúmplice das sombras não quer perder, tudo fazendo por cerceá-lo em sua trajetória.
As provações que o afligem representam oportunidade de reajuste, alertando-o para a necessidade de se moralizar, porquanto, sentindo-se açulado pelo verdugo espiritual, mais depressa se conscientizará da grandiosa tarefa a ser realizada: transformar o ódio em amor, a vingança em perdão, e humilhar-se, para também ser perdoado.
Voltando-se ao bem, conquistando valores morais, terá possibilidades de ir-se equilibrando, passando a emitir novas vibrações – e atraindo outras de igual teor – que lhe trarão saúde e paz.
A sua transformação moral, a vivência no bem, o cultivo dos reais valores da vida verdadeira irão aos poucos anulando os condicionamentos para a dor, enquanto favorecerão a sua própria harmonização interior, que é, sem dúvida fator de melhor saúde física”. (Ed. FEB, Primeira parte, Cap. 11. “O Obsidiado”).
É um trabalho que demanda tempo e exige dedicação e perseverança.
Esclarecer o obsidiado é fazê-lo sentir o quanto é essencial a sua participação no tratamento. É orientá-lo, dando-lhe uma visão gradativa, cuidadosa, do que representa em sua existência aquele que é considerado o obsessor.
É levantar-lhe as esperanças, se estiver deprimido; é transmitir-lhe a certeza de que existem dentro dele recursos imensos que precisam ser acionados pela vontade firme para que venham a eclodir, revelando-lhe facetas da própria personalidade até então desconhecidas para ele mesmo. É ir aos poucos conscientizando-o das responsabilidades assumidas no pretérito e que agora são cobradas através do irmão infeliz que se erigiu em juiz, cobrador ou vingador.
Unicamente por meio da renovação íntima é que o enfermo logrará a libertação de seu pensamento, cerceado pelo perseguidor. Este, sentindo a modificação da onda mental de sua vítima, encontrando nela os primeiros vestígios de perdão e amor, irá, progressivamente, sendo tocado por essa mudança. Daí por que a transformação tem que ser verdadeira, integral. Se o obsidiado quiser apenas aparentar, se não se conduzir com plena consciência do que deve fazer, não alcançará êxito.
Para que os esclarecimentos possam ser levados ao enfermo encarnado é imprescindível que os encarregados dessa tarefa tragam no coração grande dose de amor, de paciência, de fé, a fim de que tais sentimentos sejam por ele captados, pois sentindo-se envolvido, percebendo que o entendem e o estimam e que estão dispostos a ajuda-lo, sentir-se-á mais confiante e com maior predisposição para realizar a sua própria reforma interior.
O esclarecimento será feito através de conversações, de reuniões adequadas, de palestras, de leituras de obras espíritas indicadas pela equipe, entendendo-se que para cada caso serão adotadas as medidas compatíveis”.
(Ed. FEB. Segunda parte, Cap. 09. “Esclarecimento ao Obsidiado”).
Diagnóstico fácil; tratamento difícil. “Vítimas e perseguidores são aprendizes da evolução, credores de amor e de ajuda por parte dos seres mais elevados, que se encarregam de inspirá-los o reto caminho, a saudável conduta, a observância das leis. A diagnose da obsessão é fácil. O seu tratamento é mais difícil. Não somente se faz necessário esclarecer o perseguidor que se encontra semilouco, senão educar aquele que lhe sofre a pressão, a fim de que se rompam os vínculos que os irmanam. A prece sincera acalma a situação, no entanto, só a renovação íntima do paciente interrompe a constrição danosa. A fluidoterapia afasta temporariamente o agente da perturbação, entretanto, somente a elevação moral do obsidiado equaciona o problema”. (Em: Joanna de Ângelis, Espírito. Psicografia de Divaldo P. Franco. Nascente de Bênçãos. 1 ed. Salvador: LEAL, 2001. Cap. 23).
Bondade, paciência e verdade. “Diante de pessoas portadoras de obsessão, tem bondade e paciência para com elas, mas, não as iludas com promessas de curas sem esforço e sem sacrifício pessoal”. Porque, para o obsidiado, “(...) sua parte é sempre a mais importante no tratamento. Mesmo Jesus, quando curava qualquer enfermo, recomendava que o mesmo não voltasse a pecar, a fim de que não lhe acontecesse algo pior, ensinando que só a libertação das imperfeições morais dá ao homem a paz e a saúde integral”. (Em: Joanna de Ângelis, Espírito. Psicografia de Divaldo P. Franco. Responsabilidade. Salvador: LEAL, 1987, Cap. 04).
Cura das causas: renovação pessoal. “A cura da obsessão nem sempre ocorre quando são afastados os perseguidores. Desde que não se erradiquem as causas, a pessoa sintonizará, por fenômeno natural, com outros Espíritos com os quais se afinará por identidade de propósitos, de sentimentos, de ideais. Na reeducação mental, todo esforço devem os enfermos movimentar na adaptação às ideias otimistas, aos pensamentos sadios, através de leituras iluminativas, da oração inspiradora, do trabalho renovador, até que se criem hábitos morigeradores. (Resumido de: Painéis da Obsessão. Manoel P. de Miranda, Espírito. Psicografia de Divaldo P. Franco. Salvador: LEAL, Cap. 20).
Renovação moral. “A desobsessão é técnica espírita especializada para libertar as mentes que se interdependem, no comércio infeliz da submissão espiritual. Especialmente aplicada nos fenômenos que caracterizam a dominação de um espírito sobre um ser encarnado, ela se apoia em dois elementos essenciais: o esclarecimento do vingador - que cobra, por ignorância ou perversidade os delitos do passado - e a renovação moral do devedor, a vítima atual, que se transferiu da situação de algoz de ontem para a de dependente pagador de hoje”. (Em: Manoel P. de Miranda, Espírito. Psicografia de Divaldo P. Franco. Antologia Espiritual. Salvador: LEAL, Cap. 36).
Convite à responsabilidade. “Em qualquer processo de ordem obsessiva, quiçá na quase totalidade dos problemas de saúde, a parte mais importante do tratamento está sempre reservada ao paciente. Sua obstinação em manter-se encarcerado no desequilíbrio, preferindo inspirar compaixão a despertar amizade, constitui óbice de difícil remoção na terapia do seu refazimento. Em qualquer hipótese, no entanto, acenda a luz do conhecimento espiritual na mente que esteja em turvação. Nem piedade inoperante, nem palavrório sem a tônica do amor. A terapia espírita é a do convite ao enfermo para a responsabilidade, conclamando-o a uma auto-análise honesta, de modo a que ele possa romper em definitivo com as imperfeições”. (Em: Manoel P. de Miranda, Espírito. Psicografia de Divaldo P. Franco. Tramas do Destino. Brasília: FEB. Cap. 15).
Trabalho pessoal, educação, tempo. “O carvão para converter-se em diamante requisita séculos de apoio no laboratório da natureza. Uma árvore frutífera deve aguardar a passagem de muitas estações, até que consiga fornecer os frutos da própria espécie. A reencarnação solicita nove meses de base no claustro materno, a fim de que venha a estabelecer domínio sobre o corpo e não se requere do espírito nada menos de sete anos sucessivos de esforço, e de ensaio, para que se lhe consolide a segurança na experiência física. Em qualquer progresso ou desenvolvimento de aquisições no mundo, nada se obtém sem paciência, amor, educação e serviço; como quereis, meus irmãos da terra, que a obsessão - que é frequentemente desequilíbrio cronificado da alma - venha a desaparecer sem paciência, amor, educação e serviço, de um dia para outro? (Em: Albino Teixeira, Espírito. Psicografia de Francisco C. Xavier. Paz e Renovação. 3 ed. CEC).
Vivência do Evangelho. “O Evangelho do Cristo é, ainda, e será sempre, o melhor medicamento para obsidiados e obsessores, por prevenir os males e recuperar os que lhes tombam nas malhas. Verdadeiro tratado de otimismo, suas lições constituem valioso medicamento psíquico, atuando nos refolhos da alma e consubstanciando propósitos que se transformam em ações libertadoras. (Em: Manoel P. de Miranda, Espírito. Psicografia de Divaldo P. Franco. Terapêutica de Emergência. Salvador: LEAL, 1983).
Ação enobrecedora. “O maior antídoto à obsessão, além da comunhão com Deus, é a ação enobrecedora. O trabalho edificante constitui força de manutenção do equilíbrio, porquanto, desenvolvendo as atividades mentais, pela concentração na responsabilidade e na preocupação para executar os deveres, desconecta os “plugs” que se encaixam nas “matrizes” psíquicas receptoras das induções obsessivas. (Em: Manoel P. de Miranda, Espírito. Psicografia de Divaldo P. Franco. Painéis da Obsessão. Salvador: LEAL. Cap. 28).
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