EM ATENDIMENTO FRATERNO PELO DIÁLOGO
PROGRAMA JORNADA FRATERNA
“Provas, aflições, problemas e dificuldades se erigem na existência como sendo patrimônio de todos. O que nos diferencia, uns diante dos outros, é a nossa maneira peculiar de apreciá-los e recebê-los”. |
São esses estados de resistência ao inevitável fluxo da vida que se encontram na base de nossas “reações de sofrimento”. Em contrapartida, o estado de bem-estar resulta da capacidade de fluir com as inevitáveis mudanças, em um movimento de contínua evolução nos nossos modos de estar no mundo e viver a vida.
Consequências penosas de nossas ações equivocadas do passado. Estados pessoais e situações dolorosas nos ocorrem como consequências inevitáveis de ações desarmoniosas de nosso passado, desta e de outras encarnações. Talvez as tenhamos cometido sem pensar que acarretariam o atual resultado indesejado. Ou pode ser que até mesmo prevíssemos o que poderia acontecer, mas não tivemos forças para evitar. Essas consequências ocorrem por efeito da Lei de Ação e Reação, como oportunidade educativa de realinharmos nosso mundo interior com as leis da harmonia e do amor Divinos. Podem ser exemplos desses estados: a) perda da saúde, mutilações e/ou doenças que põem em risco a existência no mundo da matéria; b) imersão na desesperança e na apatia por não encontrar o significado de viver; c) situações de conflito, envolvendo dilemas, que demandam escolhas que não se consegue fazer ou efeitos de escolhas que já foram feitas e que geraram remorso, vergonha e/ou culpa, como deserções indébitas de compromissos afetivos assumidos; de ações como aborto; usurpação de direitos alheios; etc.
Consequências resultantes de ações equivocadas de outrem. São acontecimentos que não dependeram de uma ação nossa, pois foram resultantes de circunstâncias da vida ou ocorreram devido ao livre arbítrio de outrem ou resultaram da programação de vida de alguém significativo para nós. Por exemplo: Morte de um ente querido, com insuportável dor de separação; rompimento de laços afetivos no seio de relacionamentos familiares; conflitos de relacionamento variados: desvios de fidelidade prometida, separações não desejadas, deserções de promessas afetivas feitas em outros tempos... convivência com tragédias e desajustes que afetam entes queridos e ocasionam perda de ilusões de felicidade junto deles ou com eles.
Características Psicoemocionais da Pessoa em Sofrimento
Desconexão com as fontes de Amor e nutrição para o próprio Ser. O sofrimento é um estado que podemos definir como fazendo parte de um “círculo vicioso”. Isto é, o sofrimento intenso acontece porque em princípio o sofredor perdeu o contato com a fonte Divina do Amor Maior, dentro de si mesmo. E uma vez em sofrimento, apartou-se ainda mais das fontes desse Amor Maior, pois que seu foco de atenção passou a ser externo, centrado na situação existencial que ele imputa como causa de seu sofrimento. E como o foco da Pessoa em sofrimento está fora de si, a sensação é de que está separada, sozinha, isolada e desamparada, o que a leva a uma desconexão com as Fontes Divinas de acolhimento, amparo e fortalecimento. Todo o seu cosmos íntimo se direciona para a questão que a faz sofrer e para a sua incapacidade de impedir ou de ter impedido que o motivo de seu sofrimento acontecesse.
Percepção de encurralamento, de se encontrar sem poder de escolha. A desconexão com os poderes maiores da Vida faz com que a Pessoa se enclausure em um circuito fechado de vibrações, do qual ela não vê a saída. Esse circuito de vibrações é composto de sensações, emoções e sentimentos intensos e penosos, pensamentos conflitantes e reações aparentemente contraditórias. Sua possibilidade de enxergar alternativas de solução para sua questão desaparece face ao que lhe parece uma situação sem outra opção que não o mergulho no sofrimento. Sente-se presa, impedida de utilizar seu livre-arbítrio para realizar outra escolha. Essa percepção de encurralamento torna difícil o contato com o significado pessoal profundo do que lhe está acontecendo, assim como a impede de intuir caminhos consonantes com os propósitos de sua alma para esta encarnação.
Dificuldade para estar em contato e atender aos propósitos profundos de seu Espírito para esta encarnação. Geralmente a pessoa em sofrimento não acha um significado para o que está acontecendo. Tudo para ela é muito inexplicável, muito sem sentido. Isto se expressa no choque e dificuldade em aceitar que o acontecido tenha realmente se passado. Este estado se mostra em expressões como: “Não consigo entender como isto pode acontecer”; “Como eu não consegui ver o que estava acontecendo”?; “Como Deus permitiu que isto acontecesse”?; “O que eu fiz para merecer esse estado de coisas”? “Depois de toda a minha dedicação, como isto pode ter acontecido”?
Luta interna, revolta, inconformismo - É um estado interior de luta, no qual emoções penosas assaltam a Pessoa em sofrimento porque ela é compelida a aceitar - contra seu desejo - atos (de alguém ou dela mesma), sentimentos, emoções, ou uma condição ou situação que não quer que estejam presentes em sua vida. A mente se recusa a aceitar o que aconteceu, entrando em luta contra a realidade. Instala-se um estado de revolta ou de não aceitação, não conformação. Exemplos: A morte de um filho ainda jovem e o abandono ou traição de votos amorosos pela pessoa amada são situações potencialmente geradoras de luta interna.
Sentimentos de desesperança, de impotência - Podem resultar da resistência em deixar seguir o fluxo da vida imposto por uma mudança não desejada, mesmo que esta mudança seja parte de ciclo natural da vida. Essa incapacidade de controlar a vida leva ao estado de vulnerabilidade que pode ser sentido como desesperança ou, em outras palavras, de que “não há nada que se possa fazer para melhorar a situação”. Exemplo: Consequências do processo de envelhecimento; morte de pessoa provedora; decisões profundamente perturbadoras tomadas por outra pessoa, como um filho que se envolve com drogas ou com o crime... Filhos que eram a razão de todas as atividades significativas e que deixam o lar para constituir sua vida independente, ocasionando a chamada “síndrome do ninho vazio”...
Conflito interno, dilemas existenciais - Podem advir de uma crise ou um conflito onde dois ou mais desejos se opõem. Exemplo: Relacionamentos conjugais onde tanto ficar como sair da relação constituem situações não desejadas, envolvendo uma complexidade de fatores estressantes e geradores de sofrimento.
Reações de apego; conflitos de vinculação – São reações de sofrimento que ocorrem porque a Pessoa sofredora não se conforma em “deixar ir” ou “abrir mão” de algo ou alguém a quem está apegada (não aceita emocionalmente a separação). Quando a separação é imposta pelo livre-arbítrio de outrem ou pela natureza da própria existência neste planeta, o nível do apego determina a intensidade das reações de sofrimento decorrentes. Geralmente essas reações formam um complexo que tem significado de “perda” para a pessoa que as vivencia. Esse complexo é composto de reações mentais, emocionais e físicas próprias do estado de sofrimento intenso, razão pela qual foi denominado, pela área técnica que trata desse tema, de “reações de perda severa”. É necessário observar que aqui estamos tratando de “apego” e não da qualidade do amor devotado ao objeto de apego. O apego é relacionado a necessidades de “possuir” o objeto do apego, isto é, ter contato, usufruir de relacionamento presencial, domínio, direitos ou poder sobre... Embora tanto o amor como o apego possam estar presentes na situação, constituem estados íntimos distintos. No processo de “cura” do sofrimento pelo apego, é geralmente a conexão com a qualidade do amor que faz com que uma pessoa “abra mão” do objeto de seu apego, deixando fluir a vida e se libertando das “reações de perda”. Quando isto acontece, a qualidade do amor se torna consoladora da perda da presença (separação) e pode impulsionar um estado de ternura, paz e gratidão pelos momentos usufruídos junto ao objeto desse amor, dentre outros sentimentos e impulsos altruístas e confortadores. Ao processo que ajuda a libertar a qualidade do amor das opressões do apego chamamos “aceitação dinâmica”. A aceitação dinâmica se diferencia da acomodação ou da aceitação por desalento. Quando esse processo acontece a Pessoa gradativamente aceita que, embora não desejasse a separação que ocorreu à sua revelia, esta faz parte do processo de viver neste plano da Vida. A Pessoa pode, assim, deixar fluir os conteúdos reativos que a mantinham em sofrimento e libertar-se para o amor livre do apego.
Reações de carência por necessidades não satisfeitas - O sofrimento pode ser oriundo da frustração do desejo de segurança, de estabilidade, de provimento permanente de carências físicas e afetivas. Em geral, a Pessoa em carência por necessidades não satisfeitas não sabe ou não consegue se prover para a satisfação de suas necessidades mais íntimas e espera que o mundo lhe forneça condições para esse suprimento. Esta situação de desejos e expectativas não satisfeitas leva invariavelmente a momentos de sofrimento. A Pessoa em sofrimento deseja estabilidade, porém tudo é temporário e transitório em sua existência, assim como na de todos nós, seres humanos encarnados neste planeta. Porque se o impulso é conservar, reter o que foi estruturado, a própria evolução leva à necessidade de mudança, de deixar seguir o fluxo da vida. Por exemplo, alguém deseja que outrem esteja consigo, satisfazendo suas necessidades de afeto e ele/ela se afasta ou parte para outra dimensão da vida... A pessoa idealizou um tipo de vida ou relacionamento e constata que essas expectativas não se realizaram: por consequência, sofre...
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2 JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Psicografia de Divaldo Pereira Franco. Momentos de Consciência. Salvador, BA: LEAL. 1992. Cap. 6, ‘Culpa e Consciência’, p. 47.