Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." (Evangelho.)
Daí o chamado: "Vinde a mim todos vós que vos achais em trabalho, oprimidos, e eu vos aliviarei."
Todos os males que nos afetam têm origem na falta de comunhão com Deus.
Consequentemente, tudo que nos causa aflições, mágoas e sofrimentos, resolver-se-á como que por encanto, mediante o estabelecimento de nossas relações com a Divindade.
Da harmonia com o Infinito depende todo o nosso bem. Convém notar que esta asserção é isenta de fantasmagoria e de ideias supersticiosas. Não se trata de milagre, mas de efeito positivo duma lei natural.
Estar com Deus importa em obedecer às leis que regem os destinos da Vida, seja qual for o cenário onde essa Vida se ostente.
A lei por excelência, da qual decorrem as demais, como simples modalidades, é o Amor. Quem está fora do amor destrói sua comunhão com Deus, quebra, na parte que lhe toca, a harmonia da vida universal.
O chamamento de Jesus — "vinde a mim" — é o apelo do amor. É a aspiração duma alma, transbordante desse sentimento, que anseia por comunicá-lo a outrem. O "vinde a mim" significa, portanto, ide a vós, ide uns aos outros, amai-vos mutuamente.
Por mais paradoxal que esta interpretação possa parecer, ela é, contudo, a expressão da verdade. Jesus, chamando-nos a si, pretende lançar-nos nos braços uns dos outros, irmanando nossos ideais, fundindo nossos espíritos numa unidade.
A vida terrena é cheia de asperezas e amarguras, porque os homens vivem divorciados do amor. Não procedem como irmãos, mas, antes, como adversários cujo interesse está em se destruírem reciprocamente.
O caminho para irmos a Jesus é um só, e consiste, como já ficou dito, em irmos uns aos outros, em vazarmos, uns nos corações dos outros, nossas mágoas e nossas aflições. Enquanto permanecermos em atitude reservada, cheios de desconfianças, vendo em cada irmão nosso um competidor a aniquilar, ou um inimigo a vencer, havemos de suportar os males que nos afligem e perseguem desapiedadamente.
A pedra de tropeço que nos embarga o passo, conservando-nos distanciados do Senhor, é o orgulho. O orgulho é uma das formas mais funestas assumidas pelo egoísmo.
Por isso, o Mensageiro do amor, o inigualável Médico das almas, que conhece a fundo todas as particularidades de nosso "ser", oferece o remédio de que carecemos: "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas."
Noutras palavras: Combatei o orgulho, cultivando a humildade, e achareis pronta solução para todos os problemas que vos afetam.
O orgulho é o fardo pesado, o jugo férreo, que confrange os corações. O amor, pelo contrário, é o peso leve, é o jugo suave que encanta, que inebria o Espírito, despertando nele as mais doces e ternas vibrações.
*VINÍCIUS (pseudônimo de Pedro de Camargo). Nas Pegadas do Mestre. 9. ed. FEB, p. 61.
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